VALE EM FOCO

AO AMIGO PARLIM





Parlim e eu fizemos, juntos, nossa primeira viagem de avião. O medo inicial se transformou em riso para todos nós que o acompanhávamos. Ele não se mexia, imobilizado pelo temor da viagem. Ainda assim, brincava, ansioso pela chegada ao Recife, num voo de cinqüenta minutos que pareciam cinquenta horas.
O medo não combinava com Parlim. Até isto, ele transformava em alegria. Nem as derrotas do Botafogo o faziam deixar de zombar do meu Flamengo.
Essa criança de sessenta anos via no desenho, nos brinquedos, nas pipas, o real significado para sua existência: fazer com que a infância nunca lhe fosse tirada, assim como propiciar que ela fosse devolvida a crianças de quem o mundo a tinha roubado sob a máscara da pobreza, da desestruturação familiar ou de qualquer outra coisa.
O Projeto Recreio, por ele idealizado, levou a infância de volta, em essência, para as escolas municipais. Visite-as e, em várias delas, vais encontrar um jogo de amarelinha, desenhos, cores, parquinhos, brinquedos. Tudo sonhado por ele.
Para Parlim, nada podia ser mais sério do que brincar, nada mais importante do que ser criança, nada mais precioso do que um brinquedo (quem não lembra da sua brinquedoteca, ali ao fundo da Diocese?), nada mais recompensador do que o sorriso de uma menina ou de um menino dos quais, muitas vezes, nem pôde saber os nomes.
De agora em diante, como quando o fazíamos com as pipas que ele tanto criou, um sorriso nos virá ao rosto ao olharmos para o céu, o céu daquele avião lá do início da nossa história, o céu em cujo olhar do artista as nuvens viram brinquedos. 
Descanse em paz, amigo. O céu não lhe trará medo nunca mais.
Clériston Andrade

VIA GERALDO JOSÉ

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