Especialista fala sobre as causas do avanço do transtorno e aponta caminhos para o cuidado e a prevenção da saúde mental
O técnico de futebol Tite anunciou uma pausa na
carreira, na véspera de anunciar sua ida para o Corinthians, após uma crise de
ansiedade. Seu relato sobre o assunto foi manchete em toda a imprensa e
viralizou nas redes sociais, despertando uma onda de empatia e deixando
evidente que todos somos vulneráveis e ninguém está imune a um colapso
emocional. O transtorno de ansiedade está cada vez mais comum.
Situações traumáticas, predisposição genética,
pressão constante, excesso de trabalho e insegurança pessoal são elementos que
frequentemente se combinam e desencadeiam crises, diz a médica psiquiatra e
professora do IDOMED, Andréia Galastri,
A ansiedade pode ter origens diversas e nem sempre
existe um gatilho evidente. “Os sinais podem surgir de várias formas: insônia,
inquietação, mal-estar físico e emocional, taquicardia e tremores são alguns
dos sintomas mais frequentes”, alerta.
Como essas manifestações podem se instalar de forma
sutil, a autoobservação se torna essencial. “Manter um diário de ansiedade pode
ajudar a identificar padrões e compreender melhor as emoções e os contextos
envolvidos”, orienta a professora.
Outro aspecto que contribui para o agravamento da
ansiedade, segundo a especialista, é o uso intensivo das redes sociais. A busca
por validação, a comparação constante e o esforço para sustentar uma imagem
perfeita acabam elevando os níveis de estresse, sobretudo, entre os mais jovens
e emocionalmente vulneráveis. “As redes podem ser ferramentas positivas de
comunicação, mas também se tornam espaços de pressão e insegurança”, alerta.
O ambiente de trabalho também aparece como um fator
silencioso, porém impactante. Jornadas longas, instabilidade, frustrações e a
falta de reconhecimento alimentam o estresse crônico. “Mais do que o trabalho
em si, o que pesa é a forma como cada pessoa interpreta e reage às
dificuldades”, diz Galastri.
No tratamento, a médica reforça a importância de
uma abordagem integrada, que combine psicoterapia, mudanças no estilo de vida
e, quando necessário, o uso de medicação. No caso do Transtorno de Ansiedade
Generalizada (TAG), em que há alterações reais no funcionamento cerebral, os
medicamentos auxiliam no equilíbrio dos neurotransmissores, enquanto a terapia
promove mudanças nos padrões de pensamento e comportamento. “Não se trata de
fraqueza. É uma condição clínica e deve ser encarada com a devida seriedade”,
enfatiza.
Por fim, Galastri ressalta que o cuidado com a
saúde mental é uma responsabilidade compartilhada. Escolas, empresas e outras
organizações têm um papel importante na prevenção, ao oferecer espaços de
escuta, programas de conscientização e iniciativas que
promovam o equilíbrio entre vida pessoal e
profissional. “Mas o primeiro passo, sempre, vem de dentro: reconhecer os
sinais, pedir ajuda e permitir-se desacelerar.”
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