O Carnaval de Salvador, na
Bahia, é reconhecido mundialmente por sua grandiosidade e riqueza cultural.
Entretanto, ao olhar para o passado e o presente dessa celebração, surge uma
questão inquietante: estaria o Carnaval da Bahia envelhecendo mal?
É verdade que o Carnaval de
Salvador já viveu momentos inesquecíveis. Recordo-me das imagens vibrantes do
Trio Caetanave desfilando pela Avenida Sete há quase cinco décadas. Nessa
época, o Carnaval pulsava inovação e encantava multidões com o som das
guitarras elétricas dos pioneiros Armandinho, Dodô e Osmar. Anos depois, nos
idos de 1985, Luiz Caldas lançou o álbum Magia, que continha o hit
"Fricote". Assim nascia o movimento Axé Music, um gênero irreverente
e contagiante que dominou não apenas o Carnaval, mas também as rádios e festas
em todo o Brasil.
No início dos anos 1990, o
Carnaval baiano se reinventava novamente. Ricardo Chaves surgia como destaque,
trazendo novos ritmos e tornando-se uma sensação nacional. A banda Timbalada,
com os talentosos Xexéu, Ninha e Patrícia, conquistou o público com suas
inovações visuais e percussivas – os corpos pintados e as batidas hipnotizantes
ecoaram mundo afora. Por sua vez, o Olodum revolucionava a música
afro-brasileira, encantando artistas como Paul Simon e Michael Jackson, que
gravaram ao lado do grupo em Salvador.
No entanto, ao observar os
circuitos tradicionais, como Barra-Ondina e Campo Grande, percebe-se uma
preocupante estagnação. Artistas renomados continuam a apresentar sucessos
consagrados, mas raramente arriscam algo novo. São performances que, por mais
brilhantes que tenham sido no passado, já não possuem o impacto inovador de
outrora. Enquanto isso, uma das poucas bandas que propõem renovação, a
BaianaSystem, parece enfrentar dificuldades para conquistar espaço nos canais
de mídia durante o Carnaval. Coincidência ou não, suas apresentações
frequentemente sofrem cortes na transmissão para dar lugar a artistas mais
tradicionais.
Isso nos leva a uma reflexão
crítica sobre o futuro do Carnaval de Salvador. É possível honrar a tradição
sem abrir mão da inovação? A resposta é sim. O Carnaval precisa abraçar a
diversidade de ritmos e artistas, equilibrando as estrelas consagradas com
novos talentos que anseiam por espaço. Existe uma riqueza criativa nos
compositores da Bahia que ainda não foi plenamente explorada.
Ao longo de sua história, o
Carnaval de Salvador sempre se destacou por sua capacidade de transformação e
reinvenção. Para que continue a ser relevante e encantador, é essencial que
essa tradição de mudança persista. O público, seja no circuito ou nas telas,
merece vivenciar a explosão de cores, sons e criatividade que fez do Carnaval
da Bahia uma referência cultural mundial.
Que este espírito renovador
sirva de norte para os próximos 40 anos – porque envelhecer bem é, antes de
tudo, abraçar o novo sem perder o brilho do passado.
Dimas Roque.
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