No ano em que se comemora o cinquentenário
do Ilê Aiyê, estudantes e professores do Colégio Democrático Estadual
Professora Florentina Alves dos Santos (Codefas), localizado no município de
Juazeiro, tiveram a oportunidade de visitar a Senzala do Barro Preto, sede da
Associação Cultural Ilê Aiyê, no bairro do Curuzu, em Salvador. Na casa do Mais
Belo dos Belos, como o Ilê é conhecido, a comunidade escolar assistiu à
palestra sobre a trajetória de resistência e orgulho negro do primeiro bloco
afro do mundo; conheceu Vovô do Ilê, presidente da entidade; e participou de
oficinas práticas de dança afro-brasileira e percussão. Foi um dia “ímpar e
deslumbrante” para os jovens autores do projeto escolar antirracista Encrespa.
O encantamento de Bárbara Samira Costa Damasio, 17
anos, 2° ano, ao relatar sua experiência primeira de conhecer de perto a
trajetória do Ilê Aiyê, é bonito de se ver. “Essa viagem foi muito
significativa para mim, principalmente porque, nosso colégio, estamos
envolvidos com o Encrespa, um projeto de ação antirracista, realizado durante
todo o ano letivo. A oportunidade de conhecer a capital baiana e ver de perto
os relatos de figuras marcantes do Ilê Aiyê só comprovam como a arte pode
transformar a realidade das pessoas. Dar espaço para que pessoas negras, pobres
e periféricas se expressem artisticamente, assim como fazemos em nosso colégio,
é algo inspirador”, considera a estudante, completando que “conhecia o contexto
de resistência negra, mas quando a gente vê de perto o trabalho é totalmente
diferente e dá para ver ainda mais o quão grandioso é”.
Não menos empolgado, Guilherme Pereira, 17 anos,
cursando o 2° ano do Ensino Médio, revela que a visita ao Ilê Aiyê foi uma
experiência de descobertas. “Gostei de ter conhecido o lugar, de ter
participado da oficina para tocar os instrumentos percussivos. Aprendi uma
coisa que vou levar para a vida: quando se fala em senzala, já imaginamos ser
um local fechado, com uma história suja. Mas palestra me fez ver que o nome
dado à sede da entidade é um símbolo das marcas da escravidão no Brasil, usado
para remeter à resistência e à luta dos povos afro-brasileiros. Aconselho as
pessoas a se darem a chance de conhecer a Senzala do Barro Preto. É uma
experiência única e só tenho a agradecer”, relata o aluno.
A professora Vanessa Chaves, uma das que
acompanharam os estudantes à sede do ilê Aiyê, comenta sobre a parte da visita
dialogada. “Foi muito interessante falarmos sobre as construções das relações
étnico-raciais; a lógica de negritude; as relações com o poder e com o acesso
às instâncias decisivas; a construção de um ambiente que possibilite a
negritude ter uma vida digna e justa e como esses acessos foram negados
historicamente; como o Ilê é uma escola de aprendizagem para além das leituras,
é sobre a vida, a história, a ancestralidade; as questões sociopolíticas e por
aí vai. Os estudantes se identificaram muito com essa perspectiva”, pontua. A
docente conta que a viagem para a Senzala do Barro Preto foi articulada a partir
do projeto Encrespa, “que é o nosso projeto de educação antirracista, nascido
em 2016 com a criação de uma banda afropercussiva para alunos, ex-alunos,
funcionários, pessoas da comunidade”.
A banda percussiva da escola funciona como
um espaço de debate, a partir de questões relacionadas à negritude. “Nossa
escola está situada em uma área periférica, de população majoritariamente negra
e aí pensamos em discutir esses temas através da música. Então, o Encrespa
cresce, ao longo dos anos, aliado à educação científica e se baseando no
cumprimento da Lei nº 10.639, que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de
cultura e história afro-brasileira”, ressalta a educadora. O projeto,
complementa, ultrapassa os muros da escola, prevalecendo seu perfil de escuta,
com atividades para crianças e jovens do bairro, como aulas de percussão. “O
debate sobre as possibilidades de transformação a partir do letramento racial
se dá em vários espaços. A ida ao Ilê Aiyê, em especial, significou
estarmos em um território educativo muito rico, mágico, de reconhecimento
mútuo”, celebra.
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