Especialista em fertilidade esclarece acerca de sintomas e tratamentos para a condição |
Queda de cabelo, acne, ganho de peso, pelos no rosto e irregularidade menstrual – o verdadeiro "combo" que pode vir com a Síndrome de Ovários Policísticos (SOP), um distúrbio hormonal que afeta cerca de 2 milhões de brasileiras, poderia parar por aí, mas é capaz de se traduzir, ainda, em ramificações que incluem depressão e problemas no futuro, como diabetes e doenças cardiovasculares. Por ser uma ocorrência comum no mundo todo, afetando as mulheres em idade reprodutiva, é cada vez maior a necessidade de informação acerca da Síndrome e setembro foi considerado o mês de conscientização sobre ela.
A SOP é uma Síndrome
heterogênica, ou seja, a apresentação dos sintomas pode variar. É o que explica
a ginecologista e obstetra, especialista em Reprodução Humana e integrante da Famivita,
Dra. Malu Frade. Entre os indícios da condição, estão ciclos anovulatórios,
isto é, onde há ausência de ovulação, menstruações escassas e irregulares
(amenorreia ou oligomenorreia), maior quantidade de pelos inclusive no rosto,
presença de acne fora da adolescência, ovários com cistos característicos da
condição e dificuldade para engravidar.
"Por isso, a procura por
atendimento normalmente decorre de diferentes motivos. Elas podem estar
preocupadas, por exemplo, com a irregularidade menstrual, com o excesso de
pelos, com a obesidade, com essa gravidez que demora a chegar, ou com a acne
persistente. Dessa forma, dependerá de como a SOP afeta o cotidiano da
paciente, sendo interessante o acompanhamento com diversos profissionais, se
possível, para que haja uma melhoria na qualidade de vida", apontou a Dra.
Malu.
Vale lembrar que no quadro
clínico da SOP, é observado um aumento da resistência à insulina, conforme
acrescentou a especialista da Famivita. Basicamente, quando isso acontece, o
açúcar tem mais dificuldade para entrar nas células e, no sangue, isso
representa mais glicose circulando. “Por consequência, os ovários passam a
produzir mais hormônio androgênico, o que pode significar um acréscimo em
relação à acne ou pelos. Também por essa razão, há maiores chances de quem tem
SOP desenvolver diabetes”, revelou.
No que se refere à gravidez, a
médica endossou que mulheres com a Síndrome podem ter desde a diminuição até a
parada dos ciclos ovulatórios e, consequentemente, da menstruação, de modo que
há uma redução de ciclos em que existe a liberação do óvulo. Na prática, quem
menstrua a cada 3 meses, por exemplo, usualmente ovula somente a cada 3 meses.
Ou seja, a mulher conta com apenas 4 ovulações ao ano, diminuindo de modo
expressivo a possibilidade de engravidar.
"Todavia, a paciente com
SOP apenas é considerada infértil caso esteja com um padrão de ovulação
restaurado e tentando engravidar há mais de um ano, sem sucesso. Lembrando que
as mulheres que buscam gestar e possuem ciclos não ovulatórios, precisam do uso
de medicamentos para induzir a ovulação e isso deve ser feito com indicação e
acompanhamento médico", advertiu. A Dra Malu enfatizou, contudo, que a
infertilidade é sempre investigada do ponto de vista conjugal, ou seja, a saúde
do casal como um todo é avaliada.
Segundo a especialista, a
primeira linha de tratamento para a SOP é a modificação no estilo de vida, com
uma alimentação que seja saudável, restringindo principalmente o consumo de
açúcar, carboidratos e gorduras trans, além da promoção de atividade física
regular. Já entre as opções farmacológicas, figuram a administração de
hormônios, sensibilizadores de insulina e substâncias como o mio-inositol,
entre outras.
SOP ontem e hoje
O conhecimento acerca da SOP
remonta à 1935, com a descrição original feita pelos ginecologistas americanos
Irving Freiler Stein (1887-1976) e Michael Leo Leventhal (1901-1971), após
observação dos ovários policísticos, em mulheres inférteis e obesas com sinais
de “hiperandrogenismo” – como é chamado o aumento dos níveis de hormônios
masculinos no corpo feminino. Ainda hoje, porém, passado tanto tempo desde os
primeiros relatos, a causa permanece desconhecida.
Inúmeras pesquisas seguem sendo
efetuadas no sentido de ampliar os saberes sobre a SOP. Algumas das mais
recentes mostram que ela pode levar a variadas complicações ao longo da vida.
Estima-se, por exemplo, que mais de 50% das mulheres com SOP se tornarão
diabéticas ou pré-diabéticas antes dos 40 anos.
Noutra vertente, alguns estudos
apontaram que mulheres com SOP apresentam risco três vezes maior de câncer
endometrial e também podem estar em risco aumentado para câncer de ovário e de
mama. Outros trabalhos destacaram, igualmente, que as tentativas de suicídio
são até sete vezes mais comuns em mulheres com SOP do que para outras mulheres,
devido aos sintomas de ansiedade e depressão.
É digno de nota que pesquisas
sugeriram a possibilidade da doença ser de ordem genética, por isso, mulheres
que têm casos de SOP na família dispõem de um motivo adicional para visitar o
médico periodicamente.
SOP e Setembro
Desde 2018, o mês de setembro
foi escolhido pela Associação Nacional da Síndrome dos Ovários Policísticos
(NPCOSA, na sigla em inglês), entidade baseada nos EUA e de referência mundial,
com a premissa de oportunizar uma maior educação ligada ao tópico, ajudando as
pessoas a superar seus sintomas, bem como atuando na prevenção e redução de
riscos no que concerne às doenças relacionadas.
A ideia é especialmente evitar
atrasos no diagnóstico, garantindo que as pacientes recebam informações médicas
fiáveis pertinentes à condição. Isso porque a preocupação maior das
instituições que lidam com a saúde é fazer uma alerta para que as mulheres não
sejam apenas diagnosticadas e tratadas corretamente pelos seus sintomas atuais
(a exemplo de acne, hirsutismo e irregularidade menstrual), mas, igualmente,
tenham acesso a orientação para continuarem cuidando, ao longo de suas vidas,
dos riscos da resistência à insulina e das alterações, por exemplo, no sistema
cardiovascular.
A edição da campanha em 2023
salienta o impacto do conhecimento das pacientes na luta contra a Síndrome. Os
objetivos centrais da iniciativa dizem respeito à educação e apoio às
pacientes, ao desenvolvimento de estudos e medicamentos focado nelas, bem como
numa melhor comunicação na relação médico-paciente.
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