Por Emaísa Lima
Como andam os seus sentimentos? Conexos ou/e desconexos com você, sua
família e seus amigos? Alguém já mandou-te procurar um Psicólogo? A partir
destes questionamentos a Psicologia elege esse mundo descrito como matéria
prima, seja em caráter individual ou coletivo (indivíduo em vivência dentro da
sociedade). É com essa diversidade de mundos, internos e externos, individuais
e sociais, que o Psicólogo trabalha.
O que irá abranger uma série de medidas adequadas para o desenvolvimento
de uma estrutura social capaz de proporcionar a todos os indivíduos de uma
sociedade a condição de saúde necessária. Esta definição é utilizada também
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) contando com a inclusão da Psicologia
na Saúde Pública.
Para discutir este assunto, dentre outros, desde que envolvam a
Psicologia na Saúde Pública, o Papo Diário, trouxe
a Psicóloga, que é Especialista em Saúde Pública, Gestão em Saúde; Saúde
da Família e MBA Executivo em Coaching ( em
Curso), Thayanna Tavares.
[PAPO DIÁRIO: PD]
Afirma-se que a Psicologia é a responsável por estudar sobre o comportamento e
as funções mentais do homem, seja ele sozinho ou em sociedade. Porém, muitas
pessoas da sociedade terminaram por romancizar e pensar: o Psicólogo, apenas,
fica sentado e o paciente no divã. Podes, por favor, nos explicar como o seu
trabalho é realmente desenvolvido?
[THAYANNA TAVARES:
TT] De fato, durante algum tempo a Psicologia se dedicou a públicos
específicos, prioritariamente, às elites, o que fazia dela uma ciência e
prática, exclusivamente, destinada aos que eram mais abonados. Atualmente, e em
virtude de processos históricos que modificaram o olhar e os interesses de
mercado dos Psicólogos, houve um processo de saída das ditas “zonas de
conforto”, espaços destinados aos atendimentos psicológicos, e a introdução
destes em novos espaços de cuidado. Hoje encontramos profissionais Psicólogos
atuantes na saúde, na educação, nos contextos sociais mais diversos, no
esporte, nas diferentes formas de promoção de cuidado.
Hoje, o Psicólogo é atuante e ativista, se destina às questões
emocionais, mas dedica-se também em conectá-las aos contextos biológicos e
sociais.
[PD] A Psicologia
não se preocupa, apenas, com o papel das funções mentais do homem, mas também
com os processos fisiológicos e biológicos que acompanham os comportamentos e
funções cognitivas. É correto afirmar que é tudo um conjunto que se unifica?
[TT] Antes de
qualquer coisa, a Psicologia se preocupa com a forma como os sujeitos atribuem
significados ao mundo que o cerca, enquanto sujeitos sociais, desde muito cedo
estabelecemos necessidades de conexão entre pessoas, coisas e situações.
Como dito anteriormente, o conceito de Saúde envolve aspectos
biológicos, psicológicos e sociais que ligam e movem os sujeitos em direção as
suas múltiplas formas de existir.
[PD] A população,
ou boa parte dela, ainda tem em mente, aquela ideia, ou ideal, de que os
profissionais de Saúde Mental, em especial, os Psicólogos só lidam com
loucos/malucos?
[TT] Sonho com o
dia em que esse imaginário caia por terra. Essa ideação ainda popular de que
Psicólogo é o profissional que cuida de louco surge de uma construção
histórica, limitante e adoecedora, que vai à contramão das concepções que
envolvem a qualidade de vida sujeitos e coletividades. Ser um profissional da
Saúde Mental vai além dos processos de saúde e doença, este profissional busca
mediar o ideal e real na busca por bem-estar e qualidade de vida.
[PD] Em que posição
está a família quando se detecta algum transtorno psicológico no indivíduo?
[TT] A família é
parte essencial em qualquer processo de saúde. É ela a primeira estrutura
social que os sujeitos são referenciados e cabe a ela também o papel de
estruturador das funções individuais e coletivas. A Família é um coletivo tão
importante que existe uma estratégia de saúde destinada somente à ela, não é só
a mulher, o homem, o idoso, a criança, procura-se uma saúde que transponha
essas delimitações e isso tem tudo a ver com a Psicologia, tudo a ver com os
valores, os lugares, com as representações e questões emocionais que os
sujeitos alimentam e compartilham enquanto família.
Quando a questão está centrada mais especificamente na Saúde Mental
-fenômeno estigmatizado durante anos da história humana, pouco discutido nos
jantares e almoços familiares de domingo, ou mesmo confundido com fenômenos
religiosos- a coisa se torna mais grave, não é só a manifestação da doença que
esta ali, há também a insegurança social do estigma do ente querido, se a
pessoa for a provedora da casa há também a insegurança do provento e muitos
outros desdobramentos.
Por outro lado, a Família é o primeiro parceiro que os profissionais
devem procurar, é no seio familiar que o cuidado se faz de fato, é neste local
não físico que as orientações de cuidado dos profissionais são executadas e a
evolução do caso ocorre, é ali, exatamente ali, que a doença é vivida.
[PD] Como lidar com
esta geração de jovens, se possível dizermos, não apenas imediatista, mas que
vive “alheia” a realidade e ficam presos em confusões sentimentais sem fim?
[TT] Os conflitos
internos são processos naturais que existem em todas as fases da vida. O que
temos hoje é a evidenciação desses conflitos por meio da abertura de espaços
que em outras épocas eram suprimidos pela ausência ou distanciamento afetivo
das relações, também cabe dizer que não havia tantos meios de expressão dos
sentimentos e canais de comunicação que colocavam as pessoas em conexão
imediata com fenômenos como agora.
Estamos convivendo com gerações que antes mesmo de alfabetizar-se já
portam smartfones e interagem de múltiplas formas antes mesmo
de falar. Todo esse fenômeno interfere diretamente no processo de maturação das
questões emocionais e coloca em evidencia a exigência dos sujeitos sobre
posicionamentos que nem sempre estão acessíveis naquela fase ou
momento.
[PD] A Saúde
Pública, em uma de suas definições, acreditamos que a mais simples, serve para
organizar os sistemas e serviços de saúde, atuando em fatores condicionantes e
determinantes, por meio do controle da incidência de doenças nas populações
através de ações de vigilância e intervenções governamentais. Em que parte a
Psicologia se aplica na ajuda, no combate, no auxílio destes processos?
[TT] A Organização
Mundial de saúde (OMS) define Saúde como "um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não somente ausência de afecções e
enfermidades", ou seja, se antes para estar doente bastava ter uma
enfermidade, hoje há a necessidade de um olhar mais amplo a respeito das
condições de vida e as relações que os sujeitos estabelecem consigo, com o
território e os significados que atribui a todo esse contexto.
Desse modo, vejo a Psicologia como um campo extremamente vasto e
colaborativo para a Saúde Pública, já que ela apresenta como um de seus
objetivos colaborar para a produção de políticas públicas destinadas à Saúde,
qualidade de vida e bem-estar.
[PD] Com a
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), no ano de 1988, tem-se o auxílio
de uma equipe de multiprofissionais no auxílio ao trabalho com a Saúde Mental
integrando um novo modelo de atenção. Em que parte ajuda ou não a Psicologia?
[TT] Cabe antes de
qualquer coisa referenciar o papel inovador do SUS para a saúde brasileira,
pois além de um sistema democrático que abrange universalmente a população,
também busca contemplar o sujeito de maneira integral visando os aspectos
Biopsicossociais.
Todo esse contexto de inovações ultrapassa a barreira ideológica e
política, e requer novos posicionamentos tanto dos usuários quanto dos
trabalhadores que em primeiro lugar passam a abster-se do locus de
supremo saber diante dos demais personagens desse contexto.
Essa nova postura exige também o estreitamento dos saberes e
consequentemente, a afirmação de novas formas de relacionamento profissional,
um local muitas vezes simbólico e sempre real, de encontro de competências aqui
entendido como prática Multiprofissional.
Atualmente, entende-se a Prática Multiprofissional como um quesito de
extrema relevância para a produção de saúde, visto a necessidade de
contextualizar o ideal e o real, ou seja aquilo que se pretende e aquilo que se
tem, na produção de bem-estar e qualidade de vida.
[PD] Quais são as
suas percepções, através de sua vivência diária, no que concerne a Psicologia,
na Saúde Pública, aqui no Vale do São Francisco?
[TT] A Saúde
Pública surgiu como foco de interesse em minha vida, através de um Estágio de
Vivência no SUS, um programa de formação para estudantes de graduação de
diversas áreas da Saúde que através de imersão em cenários reais possibilitava
o desenvolvimento do senso crítico dos muitos conceitos que envolvem a Saúde
Pública no Brasil.
De lá para cá, além de amadurecer enquanto profissional, Psicóloga,
entendi que a Saúde não depende somente do amor dos profissionais pelas funções
que desempenha, mas também da qualidade dos insumos, dos interesses políticos e
da gestão.
O Vale do São Francisco pode ser simbolicamente comparado a uma pepita
de ouro, pois temos centros de formação de profissionais de alta qualidade, com
equipamentos e tecnologias eficazes, mas ainda esbarramos em questões
gerenciais graves, que nos impedem de ser o que sonho, que ainda nos impedem de
ser referencia em Saúde.
[PD] É correto
afirmar que a Psicologia construiu novas possibilidades de atuação através do
uso de multiprofissionais especializados na busca da adaptação aos novos
modelos de atuação de promoção de Saúde publica?
[TT] Posso dizer
que sim, e afirmo ainda, que não só a Psicologia teve que se reinventar e se
adequar aos novos modos de produzir cuidado. Para que esse movimento se
tornasse possível, foi necessário que novas projeções de mercado fossem
prospectadas e que os profissionais se permitissem sair dos seus campos de
conforto para produzir espaços mais ativos de cuidado.
[PAPO DIÁRIO: PD] A
pergunta que não quer calar: Quando devemos procurar um profissional de saúde
mental?
[THAYANNA TAVARES:
TT] Sempre! Cuidar da Saúde Mental é sempre necessário, não somente no
momento da crise, mas como prevenção de doenças e promoção da Saúde, do
bem-estar e da qualidade de vida. Precisamos superar a ideia ainda vigorante da
cura, do medicamento, do imediatismo. Precisamos antes de tudo, entender nossas
relações, os sentidos que damos ao mundo que nos cerca, precisamos nos conectar
com nossas crenças, com nossa historias, criar estratégias para romper com
lógicas perversas, limitantes e pouco frutíferas.
¹O Papo Diário, semanalmente, terá o intuito de esclarecer, trazendo de uma forma mais dinâmica, leve e descontraída, assuntos que sejam relacionados à Área da Saúde, com profissionais especializados, por meio do uso de perguntas e respostas, fazendo com que os nossos leitores fiquem mais conscientes sobre este tema.
Participe/colabore: papodiario30@gmail.com.
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