Dia Internacional do Trabalho Doméstico busca conscientizar sobre melhores condições de trabalho |
Dificilmente se encontra alguém que
ouviu falar e não se comoveu com a história da dona Madalena Santiago da Silva,
que foi resgatada em 2021 após trabalhar 54 anos sem receber salário, porque,
segundo a patroa, ela era considerada “da família”. Casos como esse são reflexo
de como o trabalhador doméstico é desvalorizado e, por isso, se comemora em 22
de julho o Dia Internacional do Trabalho Doméstico.
A data foi firmada há 95 anos nos
Estados Unidos, fazendo referência à luta por condições de trabalho mais
justas. Já no Brasil a data é simbólica e serve para lembrar o valor do
serviço. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
até o final de 2021, 325 mil profissionais desse setor na Bahia não tinham
carteira assinada, o que representa 85% do total, que é de 381 mil pessoas.
Comparado com 2020, este número
representa um aumento de 29% na quantidade de trabalhadores domésticos na Bahia
e de 39% na parcela desses profissionais sem carteira assinada. Segundo o
advogado especialista em direito do trabalho, Vinícius Rabello, os problemas de
exploração geralmente ocorrem com trabalhadores informais, em que não se tem
carteira assinada.
“Todo e qualquer trabalhador deve ter
sua dignidade respeitada. Quando a gente fala em dignidade, o mínimo que se
espera é que além do tratamento cordial, urbano e respeitoso, é que ele tenha
sua carteira de trabalho assinada, não ganhe menos do que a lei pré
exige”,afirma Vinicius.
Como identificar exploração - O advogado também pontua que quando a
empregada doméstica trabalha sem carteira assinada, sem limite de horas diárias
definido e em que o patrão desconta na sua alimentação, há um indício de que
pode estar havendo uma exploração. Após detectar o caso, é preciso acionar as
autoridades, que são a polícia e o Ministério do Trabalho. Nestes casos, os
auditores fiscais irão na residência em questão e farão uma análise das
condições de trabalho da doméstica. O especialista, que também é professor do
Centro Universitário UniFTC Salvador, também ressalta que é importante que a
comunidade como um todo se atente a essas condições.
“A legislação demorou bastante tempo
para ser regulamentada, mas eu costumo dizer que a demora na regulamentação não
fez diminuir o número de exploração dos trabalhadores domésticos, porque aquele
que explora não está ligando para a legislação”, pontua o advogado. Ele se
refere a Lei Complementar 150, que em 2015 regulamentou o trabalhador
doméstico.
Problema para se aposentar - Outro grande problema relacionado às
domésticas é que os casos em que não se tem a carteira assinada acarreta em
dificuldades para se aposentar. Ao dar entrada no INSS, a primeira coisa a ser
analisada é a qualidade do segurado, caso ele seja inscrito no INSS. “Se ele
não tem carteira assinada, ele não é inscrito no INSS e portanto o INSS vai
negar a aposentadoria dele. Ele vai ter que ajuizar uma declaração trabalhista,
esperar uma condenação do empregador, e apenas com a sentença que ele
conseguirá averbar o tempo junto ao INSS para aí sim obter a sua tão sonhada
aposentadoria”, conta Vinicius.
Felizmente, essa não é a realidade de
Edjane Brito Pinheiro Lima, 33, que trabalha como doméstica há um ano e seis
meses. Ela afirma que sua jornada é de 8 horas por dia, tem direito a uma hora
de almoço diária e férias. Só que este não é o caso de todas, pois a
trabalhadora doméstica ainda menciona conhecer colegas de ofício que não têm os
mesmos direitos e condições de trabalho que ela.
“Me sinto insatisfeita, pois ainda
existem patrões que tratam seus funcionários como no tempo da escravidão”,
Edjane relata. Ela alega ter conhecimento dos seus direitos e também nega que
já tenha sido desrespeitada por seus patrões ou até mesmo desenvolvido algum
problema de saúde em decorrência do trabalho. Mesmo não passando pelo que dona
Madalena Santiago passou, ela tem consciência de que a categoria é bastante
desvalorizada.
“Eu tenho esperança sim de que um dia
vamos ter os mesmos direitos que as outras profissões têm, como assistência
médica, FGTS, seguro de 5 meses, cesta básica, etc. Infelizmente, nossos
direitos ainda são muito rasos”, por fim, Edjane Brito declara.
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