Nos últimos dias tenho acompanhado inquietações diversas
acerca da educação do município de Juazeiro, inclusive, considero pertinente a
proposta de encontrar caminhos viáveis para realização do trabalho direcionado
a categoria, afinal somos profissionais da educação e devemos ser incansáveis
na defesa da mesma. Então, como faço parte do município citado, quero externar
minha opinião a respeito dessa situação.
Sou professora deste município desde 1994, concursada a
partir de 1998. E, todo esse período de trabalho prestado, atuei sempre na
mesma escola, a qual traz o nome do meu avô materno, Manoel Luiz da Silva. Esta
escola está inserida numa comunidade rural onde cresci. No momento, estou
gestora, porém, quero reportar-me ao período como professora, profissão que me
fascina.
Assim sendo, posso afirmar que no decorrer desses anos vi
e vivi situações distintas, a exemplo de limpar o chão da escola para trabalhar
num lugar aparentemente digno, solicitar ajuda dos pais para pagar alguém para
fazer a merenda, fazer uso de equipamentos de péssima qualidade para mediar
aprendizagem do público atendido no momento, contar com a solidariedade de
outros para locomoção de casa ao trabalho, entre outros.
Todas essas lembranças, me proporcionam um pouco de
tristeza, mas, nada se iguala as opressões políticas, sempre tão intensas!
Porém, mais triste do que isto, é presenciar um colega que num governo estar
numa condição mais elevada e não consegue enxergar o fardo pesado que está
sobre aquele que se encontra na posição oposta! Por que será que faço essa
colocação?
Bem, em uma carta publicada por uma colega de profissão,
a mesma cita que estamos acessando a plataforma com nosso aparelho de celular e
internet própria, complexidade na plataforma de uso atual, falta de formação
suficiente para conduzir o trabalho, insuficiência de aparelhos por família,
angústia de colegas por temer a plataforma, apoio tecnológico nas unidades
escolares, intenso trabalho a domicílio, de emprego por politicagem e
perseguição, falta de pagamento de VPNI e problemas com a seleção de professores.
Por outro lado, enaltece os dois últimos governos!
Pois bem, ao concluir a leitura da carta, fiquei a
imaginar! Com uma lista tão extensa de fragilidades e total enaltecimento dos
últimos 12 anos, dá impressão que saímos de um paraíso para o inferno!
Houve problemas nesses CEM DIAS? Sim! Mas, como disse uma
colega na live de nome SE VIRA NOS TRINTA, idealizada pala APLB, a qual tiro
meu chapéu, ”governo nenhum tem o propósito de errar”. Eu, porém, comungo
dessas palavras! Inclusive declaro, que a melhoria da educação neste município
tem a contribuição de todos os governos, sabendo, que não recebemos favor de
ninguém, afinal tudo foi feito com o dinheiro público! É lógico que alguns
fizeram mais, outros menos, porém, não houve nenhum que não tivesse implantado
algo positivo!
A colega foi ótima, quando mencionou os problemas
existentes! Só esqueceu de informar, que boa parte dos problemas enfrentado,
teve início no ano anterior! Culpa meramente de governo A ou B? Não! Estamos em
um período pandêmico, onde a sociedade foi pega de surpresa! Quem diria, que
enfrentaríamos tamanho desafio e fossemos tão distantes?! Todos estamos
com o propósito de encontrar uma solução plausível de modo a atender à
necessidade humana!
Sobre parte dos problemas apresentados, eu quero declarar
que também em 2020, os professores trabalharam nas residências usando o próprio
celular e pagando a própria internet, eu por exemplo, me incluo nisso.
Lembro-me muito bem de uma situação vivida na escola, onde ao final de cada
unidade ocorria o INTERVIR. Daí a coordenadora pedagógica era orientada a
realizar a intervenção mediante acesso ao portal, apresentando para o professor
as planilhas correspondentes a cada turma. Ao apresentar tal documento
relacionado às turmas da escola, estas, por sua vez, estavam repletas de
vermelho, por não ter acesso nenhum por parte dos alunos! Para a minha pessoa,
como também dos colegas, foi um constrangimento muito elevado, considerando o
nosso nível de compromisso em relação ao trabalho prestado! Ou seja, as crianças
não acessavam o portal, por não ter celular, internet, nem tão pouco
orientação, mas, no entanto, a culpa era nossa!
Mediante tal problema, eu precisei montar um centro
tecnológico na casa da minha mãe, fazendo uso do meu notebook, meu celular e celular
de familiares, aumentando assim de forma gigantesca a jornada de trabalho e a
conta de energia, inclusive, mediei atendimento da minha clientela e clientela
de muitos estudantes de outras escolas daquela região, todos reclamando de mal
assistência! Mas, essa situação não para por aí! Realizei entrega de atividades
xerocopiadas em uma localidade distante da escola, para aqueles alunos que não
podiam ir ao centro tecnológico, por mim montado, fazendo uso do meu veículo e
com recursos próprios. Tinha um encontro semanal com os pais, os quais, tinha
que atender embaixo de uma árvore ou numa cobertura bem perto da escola, já que
a escola estava de portas fechadas. A chegada da plataforma também foi um
desastre na época! Profissionais da educação e os pais também ficaram
amedrontados, psicológicos comprometidos, como quase sempre ocorre quando
precisamos enfrentar o novo! Formação tecnológica? Alguém teve? Eu não recebi!
Também TIVE QUE ME VIRAR NOS TRINTA! Mesmo assim, fui obrigada a ser
orientadora tecnológica dos alunos e pais!
Curioso, é que nesta carta também não foi apresentado
problemas para além da pandemia, muitos inclusive, características dos dois
últimos governos! Vale a pena lembrar de alguns! A precariedade de chegada dos
kits de merenda às escolas. Pais e alunos, por muitas vezes me questionou,
entretanto, eu não tive a possibilidade de conceder a resposta esperada.
Sofríamos em receber diários atrasados, o de 2020 por exemplo, recebemos
faltando pouco mais de 20 dias para concluirmos o trabalho no ano citado,
inclusive, houve a necessidade de trabalhar os três turnos, além do final de
semana, afinal quem ousaria descumprir essa ordem?! Obrigatoriedade de
participar de formação sem remuneração, falta de merenda, onde os gestores para
amenizar os impactos, tinham que permitir apenas, meio período de aula,
recebimento de livros didáticos em quantidade insuficiente, assédio moral por
parte de alguns gestores, impedindo assim, professores de reivindicarem seus
direitos junto ao sindicato, e nessa colocação, lembro-me bem, quando em uma
reunião sindical, o dirigente da mesma, soltou um áudio de uma gestora
disferindo palavras ameaçadoras a uma professora no intuito de neutralizá-la a
não participar dos movimentos do sindicato.
Quantos colegas encontram-se readaptados por enfermidade
física ou psicológica? Será que contraíram tais problemas nesses CEM DIAS?
Quantas planilhas desnecessárias tínhamos que preencher? Número elevado de
formações que não possibilitava atender com a devida qualidade. Será que as
administrações dos últimos 12 anos não tiveram emprego por politicagem? VPNI?
Pois é, eu jamais recebi, embora tenha preenchido diversas RDVS. Seleção de
professores que sempre ocorreram, num formato a beneficiar apenas as pessoas
pertencentes ao quadro!
Enfim, termino aqui com a consciência da dificuldade
vivida por mim e meus colegas, entretanto, na esperança de dias melhores.
Marilene Angélica da Cunha Silva
Formada em Letras – Psicopedagoga –
Professora, no momento, gestora
Se a senhora acha que tá bom porque senhora não vem dar aula aqui Maria José do Baiiro João Paulo II, pois até o momento não teve um dia de aula.
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