Como a maioria
sabe, tenho um passado na esquerda do qual não me orgulho nem me envergonho.
Apenas foi algo necessário no meu processo de maturação política.
Vi esse partido surgir bem pequeno, mas acima de tudo, bastante qualificado. Os
seus opositores tinham muito de debater, pois era formado pelos melhores
quadros. Estudantes que exigiam acesso à educação de qualidade, trabalhadores
que exigiam melhores condições de trabalho e intelectuais que possuíam
embasamento científico para sustentar suas convicções.
Entretanto, após sucessivas derrotas em 1989, 1994 e 1998, o PT teve sua mais expressiva vitória, ou seja, em 2000 a conquista da prefeitura de São Paulo, Naquele momento, a sociedade dava mostras que estava cansada de neoliberalismo e que precisava de políticas sociais. De fato, o PT era o partido com maior sensibilidade nessa área.
Em 2002, finalmente, o PT conquistou a Presidência. Só que, a partir de então,
o PT teve que fazer mudanças obrigatórias, pois passou a ter a responsabilidade
de administrar. Nesse momento, começaram alianças e adaptações, as quais
considero desvios ideológicos. Nesse momento, ao buscar uma reforma da
previdência com taxação de inativos, houve uma grande dissidência. Os Deputados
Babá, Chico Alencar e Heloísa Helena discordaram do partido e fundaram o PSOL.
Assim, o PSOL passou a ser uma versão mais radical do PT, já que este agora se
aliou à esquerda liberal e moderada. Nisso, enfatizaram as agendas
afrocêntrica, da ideologia de gênero e do feminismo.
Como o PT se manteve hegemônico, ele não se preocupou com as mobilizações
dentro da própria esquerda. A aliança do PT com as classes populares parecia
ser inabalável e eterna. Mas uma avalanche de casos de corrupção começou a
minar a credibilidade do partido. Em 2016, veio o impeachment de Dilma Rousseff
e o encolhimento do partido nas eleições municipais, chegando a perder até
mesmo em Santo André, local onde nasceu. O partido não reconheceu nenhum erro,
não pediu perdão por nada, não expulsou nenhum elemento, mesmo os condenados
pela Justiça, e insistiu até o final na candidatura de Lula, mesmo sabendo que
estava condenado em segunda instância. Provavelmente, o partido acreditava que
o povo iria reconduzir o PT ao poder como uma forma de justiça pelos golpes
sofridos através do julgamento do Mensalão(2012), do impeachment de Dilma(2016)
e da prisão de Lula na Operação Lava Jato(2018).
Ciro Gomes ficou muito chateado com Lula e com o PT, pois o partido se recusou
a apoiar qualquer nome de outro partido, pois não abriu mão de candidatura
própria. Insistiu no Lula Livre e insistiu em dizer que Lula era Haddad. Enfim,
não deu certo.
Em 2020, o fracasso do PT foi imenso. Não conseguiu fazer nenhuma capital,
reduziu mais ainda o número de prefeituras e viu o seu Frankstein PSOL assumir
protagonismo sobre a esquerda. Percebam que, em 2016, o PSOL de Marcelo Freixo
estava no segundo turno contra o Bispo Crivella e o Boulos chegou ao segundo
turno em São Paulo, com cerca de 40% dos votos, o que é algo bem expressivo.
Eu deveria estar feliz com o encolhimento do PT. Em 2020, o desempenho em São
Paulo, Rio de Janeiro e Salvador foi ridículo, diante da grandeza que o PT
possuía na primeira década do século. Entretanto, esse encolhimento do PT está
ocorrendo em concomitância ao crescimento do PSOL. Pode perceber que as agendas
do trabalhador e do estudante ficaram para trás. O PSOL abraçou a agenda da
lacração e, com isso, está conquistando com facilidade pessoas que tem
diplomação sem conteúdo. São os intelectuais de rede social. São os gênios que
nunca leram um livro. São as pessoas que apenas dizem a cor, o gênero e a
sexualidade e, apenas por isso, acham que não precisam saber cálculo
estequiométrico nem conta de dividir com números decimais. São pessoas que
acham que o Poder Público tem que extrair riqueza da burguesia para custear com
conforto a todos que não querem produzir e não produzem nada. Abismem-se, mas
essa geração é feita principalmente por jovens Enzos e já é significativa.
Perceba que entre os mais velhos a rejeição ao PSOL é imensa, mas a geração
Enzo já cresceu vendo como normais todos os absurdos que o PSOL defende e, por
isso, não tem qualquer medo de votar PSOL.
Dentro de mais ou menos 15 anos, os Enzos serão maioria e boa parte dos raiz já
terá morrido. Nesse momento, assim como o PT nasceu miudinho e patético, mas
chegou ao poder, creio que o PSOL se manterá como referência da esquerda e
conquistará o poder. Por hora, Crivella e Bruno Covas nos salvaram, mas eles já
conquistaram Belém e, sendo a maior oposição a Bolsonaro, o PSOL conquistará
coisas maiores. Já que o PSOL é a ala radical do PT, eu prefiro o PT. Estou
louco ? Não. É porque eu prefiro tomar um soco a tomar um tiro. Entre duas
merdas, sempre escolherei aquela que feder menos. Que Deus nos ajude.
Wilberstein Sandersflip
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