VALE EM FOCO

Papo Diário: O amor que salva vidas

As Enfermeiras, Laíse Paulo Damasceno (de cabelo cacheado) e Djenane Cristovam (de cabelo liso), falam sobre a importância da ocorrência da Campanha de Setembro Verde, que tem caráter nacional, objetivando destacar a importância da Doação de Órgãos e Tecidos.

Por Emaísa Lima

papodiario30@gmail.com¹

 

É no “Setembro Verde”, ou seja, durante todo este mês, no qual se conscientiza a população brasileira sobre a necessidade da doação de órgãos e tecidos para o próximo, ou melhor, no ato de salvar vidas. A intenção é de movimentar a sociedade sobre a importância deste gesto, promovendo a discussão para a criação de leis que amparem o transplantado e seus familiares durante todo este processo.

É um ato gratuito. É doação de amor e vida ao próximo. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a Constituição Federal diz que a lei apontará sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e derivados, vedado todo tipo de comercialização (Art. 199, § 4º).

No tocante que sejam gratuitas e tenham intuito humanitário ou científico, a permissão legal para a disposição de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou depois da morte, com a finalidade de transplantes e tratamentos está na Lei n. 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, conhecida como Lei dos Transplantes, e no Decreto n. 9.175, de 18 de outubro de 2017, seu regulamento.

Para falar mais sobre este assunto, a doação de órgãos e tecidos, o esclarecendo, que o Papo Diário, fará um bate papo, com duas profissionais da Área da Saúde que trabalham na Organização de Procura de Órgãos (OPO), em Petrolina (PE), a Enfermeira, Djenane Cristovam; e a Graduada em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE/Campus Petrolina), Pós graduada em Educação na Saúde para Preceptores do Sistema Único de Saúde (SUS), pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês e Pós Graduada em Doação, Captação e Transplantes de Órgãos e Tecidos, pelo Instituto de Ensino do Hospital Israelita Albert Einstein, Laíse Paulo Damasceno.

 

[PAPO DIÁRIO: PD] Para que os nossos leitores possam entender a vossa profissão, além de entenderem como todo este processo acontece: Vocês não são aquelas “tias más” que sentam as pessoas vivas (ou os familiares, em caso de indivíduos falecidos) e os obrigam a doar seus órgãos e tecidos em prol do bem estar de outro ser humano?

[DJENANE CRISTOVAM: DC] Não somos as tias más. Quando acolho uma família em sofrimento, por ter acabado de perder um ente querido. Costumo dizer que estava cuidado dele (do ente querido) e que estou ali disponível para cuidar deles também. Para escutá-los, esclarecer todas as dúvidas que surgirem diante desse processo. Sempre que temos um paciente em suspeita de Morte Cerebral. Acolhemos essa família, ainda diante da suspeita. Para que eles entendam tudo o que está acontecendo. Explicamos o porquê suspeitamos deste diagnóstico, a gravidade do quadro, como vamos proceder, para começar a realizar esses exames, que constatará o diagnóstico de morte cerebral ou não. A doação de órgãos não é obrigada, não é imposta. Oferecemos a família, diante da comprovação do diagnóstico de morte encefálica, a oportunidade de ajudar outras pessoas. A oportunidade de fazer o bem, de devolver a vida à sociedade. Fazer o bem, sem olhar a quem. A doação de órgãos só acontece mediante a autorização familiar

 

[LAÍSE PAULO DAMASCENO: LPD] Não. Nós somos aquelas TIAS BOAS, aquelas que acolhem as famílias em um momento que de dor extrema, a dor da perda de um ente querido. Nós somos responsáveis por explicar e esclarecer tudo o que aconteceu e acontecerá com o paciente. Explicar o diagnóstico que o levou à morte e ouvir todas as dúvidas e queixas da família. Nós possibilitamos o entendimento, o acompanhamento de todas as etapas do diagnóstico de morte encefálica e por fim, quando confirmada, nós mostramos a essas famílias o direito delas: saber da possibilidade de doar órgãos, da possibilidade de ajudar quem precisa. Ninguém obriga ninguém a nada, assim como o paciente tem o direito de ter um diagnóstico definido, a família tem o direito de saber o que pode acontecer e tem o direito de aceitar ou não a doação de órgãos. E o nosso dever é esclarecer e aceitar as suas decisões.

 

[PD] Conforme publicado no Diário Oficial e tendo sido promulgada em 04 de Fevereiro de 1997, com 11 anos de efetivação, no Brasil, a Lei Nº 9.434, ou melhor, a Lei dos Transplantes de Órgãos, dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Diante de tudo isto, por favor, de uma forma mais simples: O que de fato é ou se trata de Doação de Órgãos e Tecidos aqui em território brasileiro?

[DC] A doação consiste na remoção de um ou mais órgãos de um indivíduo com diagnóstico de morte cerebral confirmada. No Brasil, a partir do ano de 2001, a doação de órgãos passou a ser consentida, ou seja, só a família autoriza a doação, por escrito após o diagnóstico da morte.

Em 1997, a doação era presumida, ou seja, você registrava no documento de identidade, na carteira de habilitação, se era doador de órgãos ou não. Na época, as pessoas tinham medo de se dizerem doadoras de órgãos, diante do medo de antecipação da morte para finalidade de doação, o que não ocorre. A sociedade não tinha informações suficientes acerca do tema e colocavam em seu documento oficial que não eram doadoras de órgãos. Por isso, atualmente as famílias são consultadas sobre a doação de órgãos, sendo importante que a sociedade tenha conhecimento sobre o assunto e afirme em vida seu desejo de doar órgãos, facilitando a tomada de decisão pelos seus familiares no momento de sua morte.

 

[LPD] Doação de órgãos e tecidos é o um ato de solidariedade e cidadania em que uma família, no seu momento de dor, permite que os órgãos e tecidos do seu ente querido sejam retirados para ajudar outras pessoas que ainda possuem uma ultima opção de melhorar sua qualidade de vida e retornar às atividades da vida diária. 

 

[PD] O ato de fazer quaisquer tipos de doações é um ato de amor. O qual é pregado por muitas religiões. Logo, como lidar com a relação: Doação de Órgãos versus Religião aqui no Vale São Francisco?

[DC] Nenhuma religião é contra a doação de órgãos, pois as religiões prezam pela solidariedade e gesto amor ao próximo, que são valores intrínsecos de todas as religiões. Essa relação é bem tranquila. Os líderes religiosos lidam com isso com muita serenidade e nos ajudam no acolhimento e conforto com essas famílias.

 

[LPD] Até o momento não encontramos dificuldades com relação à religião aqui no Vale do São Francisco, inclusive, em vários casos os líderes religiosos têm se mostrado à favor da doação, pelo ato de solidariedade e poder ajudar ao próximo como também a ajudar a família doadora no seu processo de luto.

 

[PD] Sobre a fila de espera: Existe algum critério de seleção específico, como por exemplo, as pessoas ricas tem mais chances de serem transplantadas do que as demais?

[DC] Não. A lista é única por estado. A questão financeira não interfere em nada. Elas esperam pelo órgão como qualquer pessoa.

 

[LPD] Os critérios são definidos conforme a Portaria nº 2.600 de 2009, como tempo na lista de espera, gravidade em que se encontra no momento, grau de compatibilidade, peso, altura, idade. E dessa forma, não existe critério financeiro, todos têm direitos iguais.

 

[PAPO DIÁRIO: PD] Nós gostaríamos, por favor, que vocês deixassem algumas dicas (curtas, breves, dinâmicas, rápidas e diretas), aos nossos leitores, sobre a importância da Doação de Órgãos e Tecidos?

[DJENANE CRISTOVAM: DC] O transplante é a última e única opção de tratamento para que algumas pessoas continuem vivas. Imagina você poder dar essa chance a alguém? Hoje temos em nosso estado 552 pessoas esperando por um rim, 77 pessoas esperando um fígado, 10 pessoas esperando por um coração e 32 pessoas esperando por um par de córneas. Doar é um ato de amor ao próximo, deixar parte sua para salvar a vida de alguém não tem preço. Seja um doador de órgãos, avise a sua família.

 

[LAÍSE PAULO DAMASCENO: LPD] O ato de doar órgãos e tecidos é de uma grandiosidade imensurável, pois a pessoa que consegue sentir amor e vontade de ajudar ao próximo mesmo em um momento de dor, é uma pessoa iluminada, abençoada e generosa, que se desprende do egoísmo e do apego material. Existem pessoas que ainda têm uma chance de sobreviver e permanecer com seus familiares por mais tempo, e nós podemos colaborar para esta realização. Podemos transformar nossa dor em alegria para outras pessoas, como também em acalento aos nossos corações, por lembrar-mos que aquela pessoa que partiu deixou sua semente melhorando a qualidade de vida de alguém em algum lugar.

 

¹O Papo Diário, semanalmente, terá o intuito de esclarecer, trazendo de uma forma mais dinâmica, leve e descontraída, assuntos que sejam relacionados à Área da Saúde, com profissionais especializados, por meio do uso de perguntas e respostas, fazendo com que os nossos leitores fiquem mais conscientes sobre este tema. Participe/colabore: papodiario30@gmail.com

 

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