As
Enfermeiras, Laíse Paulo Damasceno (de cabelo cacheado) e Djenane Cristovam (de
cabelo liso), falam sobre a importância da ocorrência da Campanha de
Setembro Verde, que tem caráter nacional, objetivando destacar a importância da
Doação de Órgãos e Tecidos.
Por Emaísa Lima
É no “Setembro
Verde”, ou seja, durante todo este mês, no qual se conscientiza a população
brasileira sobre a necessidade da doação de órgãos e tecidos para o próximo, ou
melhor, no ato de salvar vidas. A intenção é de movimentar
a sociedade sobre a importância deste gesto, promovendo a discussão para a
criação de leis que amparem o transplantado e seus familiares durante todo este
processo.
É um ato gratuito. É doação de amor e vida ao próximo. No Brasil,
segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a
Constituição Federal diz que a lei apontará sobre as condições e os requisitos
que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e
transfusão de sangue e derivados, vedado todo tipo de comercialização (Art.
199, § 4º).
No tocante que
sejam gratuitas e tenham intuito humanitário ou científico, a permissão legal
para a disposição de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou
depois da morte, com a finalidade de transplantes e tratamentos está na Lei n.
9.434, de 4 de fevereiro de 1997, conhecida como Lei dos Transplantes, e no
Decreto n. 9.175, de 18 de outubro de 2017, seu regulamento.
Para falar
mais sobre este assunto, a doação de órgãos e tecidos, o esclarecendo, que o Papo Diário, fará um bate papo,
com duas profissionais da Área da Saúde que trabalham na Organização de Procura
de Órgãos (OPO), em Petrolina (PE), a Enfermeira, Djenane Cristovam; e a
Graduada em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE/Campus Petrolina), Pós
graduada em Educação na Saúde para Preceptores do Sistema Único de Saúde (SUS),
pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês e Pós Graduada em Doação,
Captação e Transplantes de Órgãos e Tecidos, pelo Instituto de Ensino do
Hospital Israelita Albert Einstein, Laíse Paulo Damasceno.
[PAPO DIÁRIO: PD] Para
que os nossos leitores possam entender a vossa profissão, além de entenderem
como todo este processo acontece: Vocês não são aquelas “tias más” que sentam
as pessoas vivas (ou os familiares, em caso de indivíduos falecidos) e os
obrigam a doar seus órgãos e tecidos em prol do bem estar de outro ser humano?
[DJENANE CRISTOVAM: DC] Não somos as tias más. Quando acolho uma família em sofrimento,
por ter acabado de perder um ente querido. Costumo dizer que estava cuidado
dele (do ente querido) e que estou ali disponível para cuidar deles também.
Para escutá-los, esclarecer todas as dúvidas que surgirem diante desse
processo. Sempre que temos um paciente em suspeita de Morte Cerebral. Acolhemos
essa família, ainda diante da suspeita. Para que eles entendam tudo o que está
acontecendo. Explicamos o porquê suspeitamos deste diagnóstico, a gravidade do quadro,
como vamos proceder, para começar a realizar esses exames, que constatará o
diagnóstico de morte cerebral ou não. A doação de órgãos não é obrigada, não é
imposta. Oferecemos a família, diante da comprovação do diagnóstico de morte
encefálica, a oportunidade de ajudar outras pessoas. A oportunidade de fazer o
bem, de devolver a vida à sociedade. Fazer o bem, sem olhar a quem. A doação de
órgãos só acontece mediante a autorização familiar
[LAÍSE PAULO
DAMASCENO: LPD] Não. Nós somos aquelas TIAS BOAS, aquelas que acolhem as
famílias em um momento que de dor extrema, a dor da perda de um ente querido.
Nós somos responsáveis por explicar e esclarecer tudo o que aconteceu e
acontecerá com o paciente. Explicar o diagnóstico que o levou à morte e ouvir todas
as dúvidas e queixas da família. Nós possibilitamos o entendimento, o
acompanhamento de todas as etapas do diagnóstico de morte encefálica e por fim,
quando confirmada, nós mostramos a essas famílias o direito delas: saber da
possibilidade de doar órgãos, da possibilidade de ajudar quem precisa. Ninguém
obriga ninguém a nada, assim como o paciente tem o direito de ter um
diagnóstico definido, a família tem o direito de saber o que pode acontecer e
tem o direito de aceitar ou não a doação de órgãos. E o nosso dever é
esclarecer e aceitar as suas decisões.
[PD] Conforme
publicado no Diário Oficial e tendo sido promulgada em 04 de Fevereiro de 1997,
com 11 anos de efetivação, no Brasil, a Lei Nº 9.434, ou melhor, a Lei dos
Transplantes de Órgãos, dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do
corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências.
Diante de tudo isto, por favor, de uma forma mais simples: O que de fato é ou
se trata de Doação de Órgãos e Tecidos aqui em território brasileiro?
[DC] A doação consiste na remoção de um ou mais órgãos de um indivíduo
com diagnóstico de morte cerebral confirmada. No Brasil, a partir do ano de
2001, a doação de órgãos passou a ser consentida, ou seja, só a família
autoriza a doação, por escrito após o diagnóstico da morte.
Em
1997, a doação era presumida, ou seja, você registrava no documento de
identidade, na carteira de habilitação, se era doador de órgãos ou não. Na
época, as pessoas tinham medo de se dizerem doadoras de órgãos, diante do medo
de antecipação da morte para finalidade de doação, o que não ocorre. A
sociedade não tinha informações suficientes acerca do tema e colocavam em seu
documento oficial que não eram doadoras de órgãos. Por isso, atualmente as
famílias são consultadas sobre a doação de órgãos, sendo importante que a
sociedade tenha conhecimento sobre o assunto e afirme em vida seu desejo de
doar órgãos, facilitando a tomada de decisão pelos seus familiares no momento
de sua morte.
[LPD] Doação
de órgãos e tecidos é o um ato de solidariedade e cidadania em que uma família,
no seu momento de dor, permite que os órgãos e tecidos do seu ente querido
sejam retirados para ajudar outras pessoas que ainda possuem uma ultima opção
de melhorar sua qualidade de vida e retornar às atividades da vida
diária.
[PD] O
ato de fazer quaisquer tipos de doações é um ato de amor. O qual é pregado por
muitas religiões. Logo, como lidar com a relação: Doação de Órgãos versus
Religião aqui no Vale São Francisco?
[DC] Nenhuma religião é contra a doação de órgãos, pois as religiões
prezam pela solidariedade e gesto amor ao próximo, que são valores intrínsecos
de todas as religiões. Essa relação é bem tranquila. Os líderes religiosos
lidam com isso com muita serenidade e nos ajudam no acolhimento e conforto com
essas famílias.
[LPD] Até o
momento não encontramos dificuldades com relação à religião aqui no Vale do São
Francisco, inclusive, em vários casos os líderes religiosos têm se mostrado à
favor da doação, pelo ato de solidariedade e poder ajudar ao próximo como
também a ajudar a família doadora no seu processo de luto.
[PD] Sobre
a fila de espera: Existe algum critério de seleção específico, como por
exemplo, as pessoas ricas tem mais chances de serem transplantadas do que as
demais?
[DC] Não. A lista é única por estado. A questão financeira não
interfere em nada. Elas esperam pelo órgão como qualquer pessoa.
[LPD] Os
critérios são definidos conforme a Portaria nº 2.600 de 2009, como tempo na
lista de espera, gravidade em que se encontra no momento, grau de
compatibilidade, peso, altura, idade. E dessa forma, não existe critério
financeiro, todos têm direitos iguais.
[PAPO DIÁRIO: PD] Nós
gostaríamos, por favor, que vocês deixassem
algumas dicas (curtas, breves, dinâmicas, rápidas e diretas), aos nossos
leitores, sobre a importância da Doação de Órgãos e Tecidos?
[DJENANE CRISTOVAM: DC] O
transplante é a última e única opção de tratamento para que algumas pessoas
continuem
vivas. Imagina você poder dar essa chance a alguém? Hoje temos em nosso estado
552 pessoas esperando por um rim, 77 pessoas esperando um fígado, 10 pessoas
esperando por um coração e 32 pessoas esperando por um par de córneas. Doar é
um ato de amor ao próximo, deixar parte sua para salvar a vida de alguém não
tem preço. Seja um doador de órgãos, avise a sua família.
[LAÍSE PAULO
DAMASCENO: LPD] O ato de doar órgãos e tecidos é de uma grandiosidade
imensurável, pois a pessoa que consegue sentir amor e vontade de ajudar ao
próximo mesmo em um momento de dor, é uma pessoa iluminada, abençoada e
generosa, que se desprende do egoísmo e do apego material. Existem pessoas que
ainda têm uma chance de sobreviver e permanecer com seus familiares por mais
tempo, e nós podemos colaborar para esta realização. Podemos transformar nossa
dor em alegria para outras pessoas, como também em acalento aos nossos
corações, por lembrar-mos que aquela pessoa que partiu deixou sua semente
melhorando a qualidade de vida de alguém em algum lugar.
¹O Papo Diário, semanalmente, terá
o intuito de esclarecer, trazendo de uma forma mais dinâmica, leve e
descontraída, assuntos que sejam relacionados à Área da Saúde, com
profissionais especializados, por meio do uso de perguntas e respostas, fazendo
com que os nossos leitores fiquem mais conscientes sobre este tema.
Participe/colabore: papodiario30@gmail.com
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