VALE EM FOCO

Sem braço, 'Buffon' brasileiro pega pênalti em final e vira celebridade



"O maior prazer da vida é fazer o que as pessoas dizem que você não é capaz". A frase descreve o amazonense Emanoel Penha Barbosa. Ou, como é conhecido no mundo da bola em Manaus, Emanoel Buffon - uma homenagem ao ídolo italiano.

Ele acabou de completar 16 anos e, apesar de ter nascido sem o braço esquerdo, em decorrência de uma doença congênita, é o goleiro titular do 3B, time amador sub-15 do bairro Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste de Manaus.

Se a limitação poderia ser um obstáculo, Buffon desconstrói a narrativa de forma cinematográfica: foi titular em todas os jogos do Campeonato de Base Carlos Silva e pegou duas cobranças na disputa por pênaltis - após empate em 2 a 2 no tempo normal - pela final da categoria, contra o Juventude. Ainda assim terminou vice-campeão. Veja uma das defesas no vídeo abaixo.

A campanha até a decisão foi praticamente perfeita, com apenas um gol sofrido em quatro jogos. Por isso se transformou em uma verdadeira celebridade na redondeza, apesar do segundo lugar. Agora ele quer usar dessa fama para incentivar pessoas na mesma condição.

– Já virei celebridade. Me olham na rua e dizem: "Ei, Buffon, te vi na TV". É gratificante saber que posso incentivar. Muitos têm potencial e, por mais que olhem para si desacreditados, nunca será um problema. Quero que outros vejam e se inspirem – diz o garoto.

– Que possam ficar felizes apesar de suas limitações. Muitos que, assim como eu, não têm um ou até os dois braços, não têm animação. Ficam em casa, não fazem nada, não têm amigos. Quero que me vejam e possam se inspirar a praticar esportes e outras coisas.

O manauara nasceu com uma doença congênita, que nem ele mesmo sabe o nome ou o motivo da deficiência. Mas pode-se dizer que as dificuldades começam antes de entrar em campo, como colocar luvas ou meias e calçar chuteiras. Ele acostumou-se a superar obstáculos.


– Sempre fiz tudo sozinho, desde criança minha mãe ensina. No gol também foi assim. Meu primo foi me incentivando aos poucos, e eu comecei a agarrar. Peguei totalmente o gosto pelo esporte. O que me motiva são meus amigos, que, quando passo na rua, me incentivam. Eles dizem para eu não desistir, mas continuar, porque estou no caminho certo – diz Emanoel.

O garoto afirma não ter interesse em colocar prótese. Diz que nunca pesquisou nada sobre o assunto. Mas garante que sempre quis ser goleiro. Vale dizer que, além do segundo lugar recente, ele acumula canecos amadores em outras edições do torneio do bairro.

– Desde criança, meu tio me incentiva a jogar pelada. Eu era o mais alto da equipe, e meu primo viu potencial em mim. Ele que pediu para eu agarrar. Fui pegando a manha, comecei a ir aos treinos aos poucos, comecei a disputar campeonatos e, hoje, muitas pessoas me conhecem e se inspiram em mim. Admiram minha história de vida – diz Emanoel.

"Desempenho muito além do esperado"

Rui Bonifácio, além de seu treinador, é quem ajuda a divulgar sua história. Ele descobriu Emanoel em 2017, num projeto social. Bonifácio conta que, à primeira vista, demorou a acreditar que seu pupilo era goleiro. Mas hoje tem orgulho do que o "Buffon manauara" se transformou.


– Eu fico orgulhoso de o inserir no contexto social. Para mim, isso já me torna vitorioso na profissão que escolhi. Vendo ele jogando dessa maneira e tendo os resultados que vem tendo, defendendo pênalti, sendo elogiado e considerado um dos melhores goleiros do campeonato, para mim já me satisfaz como treinador – diz o treinador.

Emanoel Buffon foi considerado um dos melhores da posição no torneio. Rui ainda afirmou que, desde sua chegada, o time evoluiu. Saiu do meio da tabela para a segunda colocação.

– O time começou a crescer na tabela e foram vice-campeões. Ele teve um desempenho muito além do esperado, e o resultado foi esse segundo lugar. Ele ainda defendeu dois pênaltis, ou seja, fez a sua parte.



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