A ação do prefeito de São Paulo João Dória para acabar com a Cracolândia está levando uma porrada de críticas de sociólogos, opositores do partido do prefeito e grupos ligados à Defesa dos Direitos Humanos. Muito normal e salutar, numa sociedade democrática, a existência da divergência. Mas vamos ver se existe fundamento racional.
01)Não é absurdo que exista um local denominado cracolândia onde pessoas se transformam em zumbis e passam o tempo inteiro vendendo e usando e abusando do uso de drogas, mas é absurdo que se faça algo para acabar com essa situação;
02)Não é absurdo que comerciantes do local não possam trabalhar nem gerar empregos porque existe uma pá de viciados que afugentam os clientes, os quais estão assustados com a violência dos usuários, muitos dos quais praticam furto, seja em nome do vício ou não, mas é absurdo que se faça algo para acabar com essa situação;
03)Não é absurdo o Estado deixar pessoas usarem suas liberdades para perderem a higiene, a autoestima, a saúde, o emprego, os estudos, a família, o futuro e até mesmo a vida, mas é absurdo tentar fazer algo para acabar com essa situação;
04)Não é absurdo que as pessoas sem vício percam sua liberdade de ir e vir e tenham que viver reclusas e amedrontadas em suas casas, para que viciados possam exercer em plenitude sua liberdade de usar drogas e amedrontar aos outros. Mas é absurdo fazer algo para acabar com tal situação;
05)Não é absurdo a existência de uma Cracolândia, mas é absurdo achar que a existência de uma Cracolândia é absurdo;
06)Não é absurdo que a Cracolândia desvalorize o metro quadrado dos imóveis daquela região, mas é absurdo tentar fazer com que valha a pena o pagamento do IPTU dos cidadãos que honram seus compromissos.
07)É absurdo tentar internar pessoas compulsoriamente, mesmo quando elas perderam qualquer noção de pudor e de ridículo. Mesmo quando perderam até mesmo o discernimento e a possibilidade de entender sua própria vontade. Mesmo quando elas estão fazendo apenas mal a si mesmas e à sociedade;
A Cracolândia é um problema social, de saúde pública, mas também é um problema de polícia. Problema social porque não está sendo feita a devida prevenção, para que as pessoas evitem entrar no uso das drogas. Porque cada vez mais existe um discurso liberal e irresponsável de apologia às drogas, as quais são colocadas como qualquer outra substância. Porque a educação doméstica e escolar falhou a ponto de jovens não terem limites e se sentirem à vontade para fazer experiências, mesmo aquelas onde há grande risco de não voltar. Não é apenas uma questão de pobreza, pois há viciados nos diversos segmentos sociais, inclusive entre os abastados.
É problema de saúde pública porque os efeitos das drogas atingem ao Governo, o qual tem que usar dinheiro público obtido do setor produtivo para custear internações de viciados. É até algo interessante e injusto. A produção e comércio das drogas não gera um único centavo para o Poder Público, mas o mesmo gasta fortunas para custear o combate às drogas e aos efeitos maléficos na saúde pública.
Só que também é problema de polícia sim. Não quero entrar no mérito de legalizar ou manter proibida, mas se as drogas são proibidas, a lei tem que se fazer cumprir. O Brasil optou por tratar o usuário como doente e tratar o traficante como criminoso. Assim, enquanto um doente precisa ser tratado, o traficante precisa ser punido, pois se abastece economicamente às custas da destruição da saúde e, em certos casos, da dignidade, da autoestima ou até mesmo da vida social, espiritual e física do ser humano.
A maior parte das queixas contra a ação liderada por João Dória contra a Cracolândia não está em eventuais excessos e falta de carinho promovidos pelos agentes públicos, mas pela própria existência de uma ação para acabar, ou pelo menos tentar acabar com a Cracolândia. Não nego que habitações regulares ou irregulares possam ter sido destruídas indevidamente, inclusive causando desalojamento e risco de morte. Não nego que agentes de saúde, guardas municipais e policiais militares possam ter agredido gratuitamente traficantes e usuários. Claro que houve excessos. Não sou idiota. O que intriga é que diversas pessoas se habituaram com a existência daquela aberração e sequer notam que aquilo ali é sim passo para tentar ajudar aos próprios viciados e às pessoas que ali transitam ou habitam. Julgam melhor a inexistência da ação do que a existência da ação mitigando os excessos.
Essa ação pode, outrossim, apenas fazer a Cracolândia mudar de lugar ? Claro que sim. Mas essa é a função do Poder Público. Se uma muriçoca pousar em teu braço e passar a chupar teu sangue, você vai dar um tapa para afugentá-la ou matá-la, mesmo sabendo que podem vir, e certamente virão outras. Mas você vai continuar se incomodando com um inseto estar chupando teu sangue. Da mesma forma, o Poder Público deve ficar sempre vigilante para reduzir ou acabar o problema. O que não pode e nem deve é ver essa situação e cruzar os braços porque julga que tudo será em vão. Estou contigo, Dória. Burguesinho, riquinho, tucano, coxinha, demagogo, populista... ? Pode ser. Mas essa atitude para mim é uma bola dentro. Tem meu apoio. 100%, Dória.
Por Reginho da Bahia